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Projeto Project
série azul [blue]

Artist Artist
Clara Sampaio

Exposição Exhibition

Desenho Multiplicado

com/with Aglaíze Damasceno, Rita Gaspar Vieira, Marcelo Forte e Vanda Madureira

Catálogo |Catalogue

 

A série de trabalhos realizada durante e após a residência artística na Viarco (2018) partiu, sobretudo, da seguinte imagem: o lápis azul enquanto instrumento da censura durante o Estado Novo em Portugal. Completamente fascinada pela ideia da cor azul poder ser utilizada como impedimento para a leitura, em oposição à tarja preta,  descobriria a existência do afamado lápis bicolor, vermelho e azul, ainda fabricado pela Viarco. Nas imagens que pude encontrar online, o lápis aparece em formas geométricas que cruzam frases, parágrafos inteiros, ao lado de carimbos de Visado, Cortado, Autorizado com cortes.

 

Nas minhas incursões pela palavra, me depararia, no idioma português de Portugal e do Brasil, com uma série de expressões de cunho político em que a cor azul apareceria. A primeira delas seria ouro sobre azul, expressão que não utilizamos no Brasil, e que para além do seu entendimento corriqueiro (algo ou uma situação deslumbrante, numa combinação perfeita), para mim, era principalmente, potência imagética.

 

O primeiro trabalho então, seria motivado por uma das possíveis origens da expressão, o ornamento dourado que daria acabamento aos azulejos portugueses. Me peguei imaginando o quanto de história e de conflitos seculares podem estar contidos numa mina de lápis azul, hoje adquiridos com a maior facilidade do mundo.

Por outro lado, o azul me levaria a duas outras historietas incríveis: a mosca azul, conto de Machado de Assis; que em suma pode ser entendido como uma alegoria ao sedutor jogo pelo poder; e a expressão colarinho azul ( as duas utilizadas tanto no Brasil, quanto em Portugal), para designar os operários, a mão de obra assalariada, enquanto na outra ponta do espectro estariam os colarinhos brancos, os donos das fábricas (ou empresários, industriais).

Para a exposição, apresentei a série feita com papel químico (papel carbono),  que reflete sobre seu uso durante regimes de exceção na reprodução de cartazes, panfletos sindicais ou de propaganda política. Um material que por vezes não aparece, que fica oculto e é a matriz onde se grava informação.

 

Como em todas as expressões mencionadas eu encontrava uma íntima relação que a priori desconhecia, me vi também como tradutora desses conceitos-histórias: imbuí muito de mim e do que está à minha volta nesse processo de interpretação. Diferenças da minha língua materna e da língua que a originou , e também o contraste na minha condição de habitar Portugal, descobrindo o idioma quase mesmo como outra língua.

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